Uma Comunidade de Aprendizagem

COMUNIDADE: AS CARACTERISTICAS E VALORES DE UMA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM

Francisco Alves da Costa Sobrinho


Uma comunidade se forma a partir de necessidades comuns, de interesses a serem satisfeitos, de metas a serem alcançadas, de objetivos a serem estabelecidos e cumpridos, com base no estabelecimento e de cumprimento de códigos expressos através de diversas manifestações e formas de linguagem.


Para existir como tal, uma comunidade materializa-se baseada em alguns pressupostos, os quais dizem respeito, normalmente, a questões que fundamentam e justificam o interesse ‘comunal’, como pode ser o caso da necessidade de moradia, local de trabalho e/ou emprego, estudos, esportes, cultura e lazer etc.


Uma comunidade se faz à base de muitas exigências cotidianas e pressupõe conhecer as formas de defesa, de ataque, onde encontrar apoios, como se estabelecer e conviver melhor, sobreviver e ser capaz da criação de laços pessoais, etc., enfim, que se deva passar por todo um período de adaptação e aprendizado, caminhando pelo novo e pelo desconhecido (em que podem ocorrer manifestações de medo, de insegurança, e sentimentos de solidão, saudade, decepção, indo e vindo nos momentos de maior ou menor tensão).

Assim, a iniciativa de formação e funcionamento de uma Comunidade de Aprendizagem, pressupõe todo um processo de sensibilização e de identificação, realizado através de mobilização e conscientização dos seus integrantes, no sentido de buscar o seu ordenamento e a estruturação das ações a serem desenvolvidas, considerando sua natureza, qualidade e legitimidade; entendendo-se que a Comunidade de Aprendizagem estrutura-se como um projeto educativo e cultural próprio, o qual deverá servir, conforme a educadora Rosa Maria Torres, “para educar a si própria, suas crianças, jovens e adultos, graças a um esforço endógeno, cooperativo e solidário baseado em um diagnóstico não apenas de suas carências, mas, sobretudo, de suas forças para superar essas carências.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ENSINO TRADICIONAL E ENSINO A DISTANCIA

Francisco Alves da Costa Sobrinho

 A educação tradicional, linear, estruturada para integrar um sistema educativo oficial, formal, orientada e subordinada aos parâmetros educacionais estabelecidos formalmente, realizada em sala de aula contando com a presença física do professor, é modalidade estabelecida ao longo da história da educação e vem desempenhando um papel importante no aprendizado e na formação de pessoas; haja vista a longa trajetória por ela atravessada, os registros dela realizados e o manancial de anotações, relatórios, anais de seminários, congressos e inúmeros outros eventos acadêmicos, pesquisas, estudos, teses, monografias e demais trabalhos elaborados nos processos formativos de graduação, conclusão de cursos e especializações (pós-graduações), muitos dos quais resultando em publicações em livros, periódicos e publicações especializadas.
O fato é que, por maiores que sejam os avanços no campo da educação na modalidade tradicional, em linha, formatada e estruturada em espaços físicos próprios (escolas, centros ou institutos de educação, faculdades, universidades...), localizados geograficamente em comunidades urbanas, suburbanas ou rurais, a dinâmica de crescimento da sociedade, aliada a inúmeros outros fatores socioculturais e educacionais, tem demonstrado, abundantemente, o abismo existente entre as demandas educacionais cada vez mais crescentes e a correspondente falta de equipamentos e demais recursos para atendê-la, gerando numerosos contingentes de pessoas analfabetas ou sem possibilidade de dar continuidade à sua formação, em todos os continentes da terra.
Com isso, dentre as inúmeras mudanças que ocorrem na sociedade atual, de ordem econômica, política, social, ideológica, a escola, como instituição de ensino e de práticas pedagógicas, enfrenta muitos desafios que comprometem a sua ação frente às exigências que surgem e os profissionais, que nela trabalham, precisam estar conscientes de que os alunos devem ter uma formação cada vez mais ampla, promovendo o desenvolvimento das capacidades desses sujeitos.
Para Vygotsky (1998) a ação do sujeito com o conhecimento é fundamental. Ele entende que essa ação não é direta e mediadora, como acreditava Piaget, mas, mediada pelas intervenções dos outros mais experientes e pela linguagem, pelo signo. Assim, na abordagem histórico-cultural do processo educativo, o professor exerce um papel crucial de mediador, por meio da linguagem, entre os sujeitos e os conhecimentos, compreendidos como práticas da cultura (CARVALHO, 1999).
Os estudos de Bakhtin (1994) mostram que a linguagem é, ao mesmo tempo, atividade humana e instrumento mediador de interação, só sendo possível em contexto de produção de sentidos/discursos entre sujeitos. Assim, entende-se que a aprendizagem da leitura e escrita, desde seu início, não pode ser desvinculada de uma concepção de linguagem como interação social, pois, só assim ela ganha sentido e se realiza como produção de sentido. E isso se aplica, em todos os sentidos, na realização do processo de ensino e aprendizagem.
Por tudo isto, pensar as diferenças entre as modalidades de educação tradicional, em linha e a educação a distancia, virtual,  leva-nos à convicção de que a Educação a Distancia apresenta-se como uma modalidade de ensino – aprendizagem que é capaz de proporcionar a educação a todos os que dela necessitem, ajudando a superar barreiras antes consideradas intransponíveis, como é o caso das dificuldades concretas da inexistência de espaços escolares, em abundancia e adequados; da falta de professores qualificados e/ou especializados e das várias dificuldades e impedimentos dos alunos (os estudantes, objeto primeiro de qualquer sistema educativo), nas mais variadas situações (mudanças de hábitos, significativos aumentos de idade, dificuldades de deslocamento por falta de tempo para assistir as classes e tantas outras).
Comunidades de aprendizagem são essenciais para aqueles que necessitam dar conta do tempo e, sobretudo, para os que estudam a distância, pelas razões explicadas abaixo (Hirumi 1996), pelo fato de que as comunidades de aprendizagem geram mais motivação tanto em grupos quanto nas posturas individuais, considerando-se que estudantes em um grupo conseguem melhor forma de aprender com seus pares, de modo a ser possível falar de um maior apoio aos alunos de forma isolada.
Além disso, a intercooperação gerada em comunidades de aprendizagem permite o desenvolvimento cognitivo e interação social, verificando-se que a interação ajuda os alunos a perceber oportunidades de colaboração positiva dos pares, e reduz a percepção da solidão, individualismo, anonimato e insegurança, para comunicar suas idéias e se relacionar com os outros.
Existe um entendimento da EAD baseado na existência de três blocos de teorias ou intentos de teorizar a sua base, explicitados da seguinte forma: teorias que tomam por base a autonomia e a independência do estudante (Delling, Wedemeyer y Moore); teoria baseada no processo de industrialização da educação (Peters): e teoria baseada na interação e na comunicação (Baath, Holmberg, Sewart y outros). Analisando-se comparativamente estes ‘intentos’ teóricos, tomado por termos a visão de Simonson, Schlosser y Hanson (1999), percebe-se que existem alguns elementos comuns a todos os casos, a partir da percepção do reconhecimento do estudante como objeto de qualquer sistema educativo, verificando-se as suas necessidades e características especificas: idade, nível educativo e conhecimentos prévios, condição social, disponibilidade de tempo para estudo etc, os quais se convertem em elementos condicionantes na definição do modelo de educação mediado por alguma tecnologia, aplicando-se a educação de forma geral, na formação presencial e convencional e na formação em EAD.  
Outro elemento a considerar no contexto da educação é o papel fundamental que o professor desenvolve na relação com o estudante, em que, na realidade, há um fato de análise teórica comum Interessante: todos falam de 'diálogo', ou um conceito equivalente em se tratando de um modelo de educação a distância. O conceito de "diálogo" nos traz elementos muito enriquecedores, em certos casos, mas também há momentos em que se torna vazio. Apenas Peters, que sustenta não procurar desenvolver uma teoria da educação a distancia (Peters, 1989), não o utiliza. O terceiro elemento são os recursos disponibilizados aos alunos para a aprendizagem, reforçando o conceito básico da interação. Tanto em um modelo baseado na autonomia quanto na comunicação, em ambos os casos, a interação é considerada um efeito positivo e favorecedor no processo de ensino – aprendizagem.
Por sua vez, a educação a distancia, há até relativamente pouco tempo, era vista como uma educação compensatória para qual foram "condenados" aqueles que não foram capazes de atender situações da educação em sala de aula, e passaram a ser atendidos com o surgimento do uso social das tecnologias de informação e comunicação (Castells, 1997). E isso é como a conceituação da educação a distância ainda é por muitos considerada neste momento, e, em alguns casos, como uma alternativa real à educação em sala de aula.


De outra forma, o incremento e o uso das tecnologias (como a aplicação das TICs atuais) e de novas experiências de educação a distancia, tem permitido uma percepção mais moderna de educação, apontando um significativo crescimento de sua utilização, inclusive na superação da dificuldade de interação entre os educandos, obstáculo que historicamente inibia a força de sua manifestação como um sistema educativo válido e eficiente, o qual, agora utilizando uma nova concepção, supera o conceito da educação baseada na idéia de que o contato entre professor e o aluno é a única chave que permite que as atividades de educação, com base oral, seja capaz de transmitir conhecimentos e realizar o processo de ensino – aprendizagem na qual a equipe e o trabalho colaborativo são muito valorizados, refletindo as mudanças sociais e a nova força de trabalho (Haarasim et al, 1995), a aprendizagem utilizando redes tecnológicas que permitem a interação não só entre os estudantes mas também entre especialistas e fontes de informação, bem como  acumular conhecimento de forma progressiva e, assim, desenvolver habilidades.


Assim, os atributos do trabalho de rede vão de encontro a oportunidades e recursos disponíveis para alunos e professores. Eles não são limitados devido à sua localização geográfica e tornam-se fáceis de começar com os professores, mediadores, tutores, normalmente orientados por professores altamente especializados, abrindo acesso as melhores bibliotecas e bases de dados no mundo, tornando possível a consulta, o manuseio, a utilização por qualquer estudante, recursos jamais alcançados em sistema educativo baseado em sala de aula tradicional.

Trata-se, portanto, de uma modalidade aberta a receber e a tornar proveitosos os resultados dos avanços científicos e tecnológicos, dando respostas as necessidades sociais e garantia de  alternativas de formação para todos, em todos os lugares e situações.



REFERENCIAS:

BAKHTIN, Mikhail. Apontamentos 1970-1971. In: Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997b. p. 369-414.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1994 
CARVALHO, Denise Maria de. Aprender e Ensinar a linguagem escrita: do movimento de um fazer a um saber em movimento. 1999. Tese (Doutorado em Educação do Centro de Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1999.
CASTELLS, M. A sociedade em rede one-direcional. Cambridge, MA, Oxford, UK: 1997.
SIMONSON, M., SCHLOSSER, C., HANSON, D. (1999). Teoria e Educação a Distancia: Uma nova discussão. American Journal of Distance Education Vol. 13, n º. 1
VYGOTSKY, L. S. A pré-história da linguagem escrita. In ______. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.



QUAL O FUTURO DA EDUCAÇÃO A DISTANCIA, PRA ONDE E ATÉ AONDE VAI?

Francisco Alves da Costa Sobrinho



A Educação a Distancia apresenta-se como uma modalidade de ensino – aprendizagem que é capaz de proporcionar a educação a todos os que dela necessitem, ajudando a superar barreiras antes consideradas intransponíveis, como é o caso das dificuldades concretas da inexistência de espaços escolares, em abundancia e adequados; da falta de professores qualificados e/ou especializados e das várias dificuldades e impedimentos dos alunos (os estudantes, objeto primeiro de qualquer sistema educativo), nas mais variadas situações (mudanças de hábitos, significativos aumentos de idade, dificuldades de deslocamento por falta de tempo para assistir as classes e tantas outras).


Comunidades de aprendizagem são essenciais para aqueles que necessitam dar conta do tempo e, sobretudo, para os que estudam a distância, pelas razões explicadas abaixo (Hirumi 1996).

  1. Comunidades de aprendizagem geram mais motivação tanto em grupos quanto nas posturas individuais.
  2. Estudantes em um grupo conseguem melhor forma de aprender com seus pares, de modo a ser possível falar de um maior apoio aos alunos de forma isolada.
  3. A intercooperação gerada em comunidades de aprendizagem permite o desenvolvimento cognitivo e interação social.
  4. A interação ajuda os alunos a perceber oportunidades de colaboração positiva dos pares, e reduz a percepção da solidão, individualismo, anonimato e insegurança, para comunicar suas idéias e se relacionar com os outros.
Existe um entendimento da EAD baseado na existência de três blocos de teorias ou intentos de teorizar a sua base, explicitados da seguinte forma: teorias que tomam por base a autonomia e a independência do estudante (Delling, Wedemeyer y Moore); teoria baseada no processo de industrialização da educação (Peters): e teoria baseada na interação e na comunicação (Baath, Holmberg, Sewart y outros),

            Analisando-se comparativamente estes ‘intentos’ teóricos, tomado por termos a visão de Simonson, Schlosser y Hanson (1999), percebe-se que existem alguns elementos comuns a todos os casos, a partir da percepção do reconhecimento do estudante como objeto de qualquer sistema educativo, verificando-se as suas necessidades e características especificas: idade, nível educativo e conhecimentos prévios, condição social, disponibilidade de tempo para estudo etc, os quais se convertem em elementos condicionantes na definição do modelo de educação mediado por alguma tecnologia, aplicando-se a educação de forma geral, na formação presencial e convencional e na formação em EAD.

Outro elemento a considerar no contexto da educação é o papel fundamental que o professor desenvolve na relação com o estudante, em que, na realidade, há um fato de análise teórica comum Interessante: todos falam de 'diálogo', ou um conceito equivalente em se tratando de um modelo de educação a distância. O conceito de "diálogo" nos traz elementos muito enriquecedores, em certos casos, mas também há momentos em que se torna vazio. Apenas Peters, que sustenta não procurar desenvolver uma teoria da educação a distancia (Peters, 1989), não o utiliza. O terceiro elemento são os recursos disponibilizados aos alunos para a aprendizagem, reforçando o conceito básico da interação. Tanto em um modelo baseado na autonomia quanto na comunicação, em ambos os casos, a interação é considerada um efeito positivo e favorecedor no processo de ensino – aprendizagem.

Por sua vez, a educação a distancia, há até relativamente pouco tempo, era vista como uma educação compensatória para qual foram "condenados" aqueles que não foram capazes de atender situações da educação em sala de aula, e passaram a ser atendidos com o surgimento do uso social das tecnologias de informação e comunicação (Castells, 1997). E isso é como a conceituação da educação a distância ainda é por muitos considerada neste momento, e, em alguns casos, como uma alternativa real à educação em sala de aula.

De outra forma, o incremento e o uso das tecnologias (como a aplicação das TICs atuais) e de novas experiências de educação a distancia, tem permitido uma percepção mais moderna de educação, apontando um significativo crescimento de sua utilização, inclusive na superação da dificuldade de interação entre os educandos, obstáculo que historicamente inibia a força de sua manifestação como um sistema educativo válido e eficiente, o qual, agora utilizando uma nova concepção, supera o conceito da educação baseada na idéia de que o contato entre professor e o aluno é a única chave que permite que as atividades de educação, com base oral, seja capaz de transmitir conhecimentos e realizar o processo de ensino – aprendizagem na qual a equipe e o trabalho colaborativo são muito valorizados, refletindo as mudanças sociais e a nova força de trabalho (Haarasim et al, 1995), a aprendizagem utilizando redes tecnológicas que permitem a interação não só entre os estudantes mas também entre especialistas e fontes de informação, bem como  acumular conhecimento de forma progressiva e, assim, desenvolver habilidades.  

Assim, os atributos do trabalho de rede vão de encontro a oportunidades e recursos disponíveis para alunos e professores. Eles não são limitados devido à sua localização geográfica e tornam-se fáceis de começar com os professores, mediadores, tutores, normalmente orientados por professores altamente especializados, abrindo acesso as melhores bibliotecas e bases de dados no mundo, tornando possível a consulta, o manuseio, a utilização por qualquer estudante, recursos jamais alcançados em sistema educativo baseado em sala de aula tradicional. Trata-se, portanto, de uma modalidade aberta a receber e a tornar proveitosos os resultados dos avanços científicos e tecnológicos, dando respostas as necessidades sociais e garantia de  alternativas de formação para todos, em todos os lugares e situações.


REFERENCIAS:

Moore, M. (1989) “Editorial: Three types of interaction”. American Journal of Distance Education. Vol. 3, num. 2, págt. 1-16.
Peters, O. (1989) “The iceberg has not melted: further reflections on the concepto of industrialization and distance teaching”. Open Learning. Vol. 4, num. 3. pág. 3-8.
Sangrá, A. (2002) “Conferencia pronunciada em la Universidad Autônoma de Madrid el 20 de mayo 2002, em el marco del Seminario de formación de RED-U”
Wedemeyer, C. (1981) Learning of the Back-door. Madison: University of Wisconsin.